Nessa enchente de filmes de zumbis, que saem as dezenas
todos os anos, desde que o gênero foi revivido na tela grande com filmes como
Extermínio e a refilmagem de “Madrugada dos Mortos”, poucos se salvam. O
principal problema está no foco; como já cansei de dizer, os melhores filmes de
zumbis usam os mortos-vivos como pano de fundo para estudar a natureza humana,
e como fatalmente é por nossa própria culpa que caímos em suas mandíbulas
putrefatas.
Claro, existem filmes de zumbis que se focam mais no combate
entre eles e os humanos do que nas questões psicológicas dos personagens, mas
eles também são apoiados em outras qualidades. O remake citado, por exemplo,
tem no seu grande numero de personagens a chance de oferecer um dinamismo na
história, e o fato de tornarem os zumbis em maratonistas, apesar de muito
questionado por fãs de horror, é uma diferença que evita que o filme seja
redundante, e injeta outra forma de tensão. O próprio “Zombi – O Despertar Dos
Mortos” de Lucio Fulci é um filme que seria medíocre se não fosse a vasta
imaginação visual de seu realizador, que mais do que justifica os personagens
rasos.
“Exit Humanity”, filme de 2011 dirigido por John Geddes é um
dos poucos filmes sobre nossos queridos comedores de carne que se aventuram por
épocas mais remotas – mais precisamente os anos logo após a Guerra Civil
Americana. A história se centra em
Edward Young, um jovem soldado que se vê obrigado a eliminar a esposa e o filho
após o inicio da infecção.
O principal problema a se identificar do longa, logo do
inicio, é a escolha da forma narrativa. O protagonista, já idoso, narra a
história, mas da forma mais boba possível; o texto é tão redundante que chega
quase no nível de narrar exatamente o que está acontecendo na tela.
Infelizmente, isso denota falta de confiança na força da própria história e das
imagens da obra por parte do diretor, que prefere guiar o espectador pela mão
do que deixa-lo correr o risco de se perder em contemplação. Um comentário a parte: a única coisa que evita
que a narração seja ainda pior é o fato de que o ator escolhido, o veterano
Brian Cox, tem uma voz insanamente semelhante ao grande Johnny Cash. Ah, se a
qualidade do texto fosse a mesma das letras deste...
Falando em atores, o protagonista do filme, encarnado pelo
iniciante Mark Gibson, tem uma presença, ao menos visual, interessante. Ele
lembra um Kiefer Sutherland no inicio de carreira, e tem aquela característica quase estoica que é muito
bem vinda, ainda mais numa história sobre um homem que já não tem mais o que
perder. Suas expressões, seu choro, e
seus gritos de dor são até bem intensos, e o único problema reside na sua fala.
A entonação de sua voz é muito ruim, não passando nem sequer apatia por parte
do personagem; fica a impressão de que o ator não estava nem aí nesses
momentos.
Os personagens são todos pessimamente desenvolvidos, com
diálogos que não chegam a lugar algum e nunca servem para nos dar algum maior
entendimento daqueles personagens, mas servem apenas de alavanca para a
história e para exposição, que poderia ter sido feito de alguma outra forma. Interessante é notar a utilização de muitos
veteranos do gênero no elenco, como Dee Wallace, Bill Moseley e Stephen
McHattie.
Os efeitos práticos são bem realizados, e o filme como um
todo tem um valor de produção que muitas vezes nos faz esquecer de que é um
filme independente. A maquiagem dos zumbis, o sangue e a caracterização de
época são excelentes. As locações em florestas canadenses e a decisão de situar
o filme no inverno encaixam bem com o clima melancólico que a obra propõe. A
trilha sonora, também reforçando esse clima de tristeza, as vezes exagera no
melodrama, mas no geral é passável.
Outro detalhe interessante de longa é a escolha de
desenvolver vários trechos em forma de animação muito semelhante as HQs, e que
diz muito sobre o espirito do filme: essa é uma história que teria sido ideal
para uma graphic novel ao estilo de Walking Dead, ou para um jogo de videogame.
O filme é inclusive dividido em sete capítulos, e cada um é representado por
uma página do diário do protagonista. Com diálogos ruins, narração mal
utilizada, mas com um uma produção afiada e clima episódico, fica aquela
sensação de que “Exit Humanity” teria sido melhor jogado (ou lido) do que assistido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário