09/08/2012

Zumbis e mosquetes




Nessa enchente de filmes de zumbis, que saem as dezenas todos os anos, desde que o gênero foi revivido na tela grande com filmes como Extermínio e a refilmagem de “Madrugada dos Mortos”, poucos se salvam. O principal problema está no foco; como já cansei de dizer, os melhores filmes de zumbis usam os mortos-vivos como pano de fundo para estudar a natureza humana, e como fatalmente é por nossa própria culpa que caímos em suas mandíbulas putrefatas.

Claro, existem filmes de zumbis que se focam mais no combate entre eles e os humanos do que nas questões psicológicas dos personagens, mas eles também são apoiados em outras qualidades. O remake citado, por exemplo, tem no seu grande numero de personagens a chance de oferecer um dinamismo na história, e o fato de tornarem os zumbis em maratonistas, apesar de muito questionado por fãs de horror, é uma diferença que evita que o filme seja redundante, e injeta outra forma de tensão. O próprio “Zombi – O Despertar Dos Mortos” de Lucio Fulci é um filme que seria medíocre se não fosse a vasta imaginação visual de seu realizador, que mais do que justifica os personagens rasos.

“Exit Humanity”, filme de 2011 dirigido por John Geddes é um dos poucos filmes sobre nossos queridos comedores de carne que se aventuram por épocas mais remotas – mais precisamente os anos logo após a Guerra Civil Americana.  A história se centra em Edward Young, um jovem soldado que se vê obrigado a eliminar a esposa e o filho após o inicio da infecção.



O principal problema a se identificar do longa, logo do inicio, é a escolha da forma narrativa. O protagonista, já idoso, narra a história, mas da forma mais boba possível; o texto é tão redundante que chega quase no nível de narrar exatamente o que está acontecendo na tela. Infelizmente, isso denota falta de confiança na força da própria história e das imagens da obra por parte do diretor, que prefere guiar o espectador pela mão do que deixa-lo correr o risco de se perder em contemplação.  Um comentário a parte: a única coisa que evita que a narração seja ainda pior é o fato de que o ator escolhido, o veterano Brian Cox, tem uma voz insanamente semelhante ao grande Johnny Cash. Ah, se a qualidade do texto fosse a mesma das letras deste...

Falando em atores, o protagonista do filme, encarnado pelo iniciante Mark Gibson, tem uma presença, ao menos visual, interessante. Ele lembra um Kiefer Sutherland no inicio de carreira, e tem aquela característica quase estoica que é muito bem vinda, ainda mais numa história sobre um homem que já não tem mais o que perder.  Suas expressões, seu choro, e seus gritos de dor são até bem intensos, e o único problema reside na sua fala. A entonação de sua voz é muito ruim, não passando nem sequer apatia por parte do personagem; fica a impressão de que o ator não estava nem aí nesses momentos.

Os personagens são todos pessimamente desenvolvidos, com diálogos que não chegam a lugar algum e nunca servem para nos dar algum maior entendimento daqueles personagens, mas servem apenas de alavanca para a história e para exposição, que poderia ter sido feito de alguma outra forma.  Interessante é notar a utilização de muitos veteranos do gênero no elenco, como Dee Wallace, Bill Moseley e Stephen McHattie.



Os efeitos práticos são bem realizados, e o filme como um todo tem um valor de produção que muitas vezes nos faz esquecer de que é um filme independente. A maquiagem dos zumbis, o sangue e a caracterização de época são excelentes. As locações em florestas canadenses e a decisão de situar o filme no inverno encaixam bem com o clima melancólico que a obra propõe. A trilha sonora, também reforçando esse clima de tristeza, as vezes exagera no melodrama, mas no geral é passável.

Outro detalhe interessante de longa é a escolha de desenvolver vários trechos em forma de animação muito semelhante as HQs, e que diz muito sobre o espirito do filme: essa é uma história que teria sido ideal para uma graphic novel ao estilo de Walking Dead, ou para um jogo de videogame. O filme é inclusive dividido em sete capítulos, e cada um é representado por uma página do diário do protagonista. Com diálogos ruins, narração mal utilizada, mas com um uma produção afiada e clima episódico, fica aquela sensação de que “Exit Humanity” teria sido melhor jogado (ou lido) do que assistido.

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