03/08/2012

O Cavaleiro das Trevas Escorrega

            Padre, eu pequei. Meu crime foi o de não gostar tanto quanto os defensores histéricos de Nolan do ultimo capitulo de sua visão sobre o homem-morcego.

            Primeiramente, devo dizer que não acho “O Cavaleiro das Trevas Ressurge” um filme ruim. De forma alguma. Ele mantém o clima dos filmes anteriores, tanto na fotografia quanto na estética realista que Nolan se comprometeu a nos dar. Ah, isso, claro, quando ele não decide ter diarreia mental e avançar o filme com artifícios de roteiros pobres que, sinceramente, eu poderia encarar facilmente em muitos outros filmes, mas não da continuação de um filme como “O Cavaleiro Das Trevas”, e muito menos de uma continuação com o MESMO diretor.

            O filme tem coisas boas a seu favor, e a maior delas está na segurança do elenco – impossível um filme ruir quando o alicerce é formado por atores talentosos que já estão confortáveis nos seus personagens. Assim, Christian Bale, Michael Caine e Gary Oldman seguram um longa desnecessariamente inchado, que poderia ter tido facilmente uma história mais enxuta.

            Começando por aspectos técnicos, o que mais me chamou a atenção foi o tanto que as cenas de ação foram simplesmente genéricas.  Elas não contém nada da tensão e da imaginação das do filme anterior – quem não ficou boquiaberto quando Batman fez o caminhão que transportava o Coringa tombar de ponta-cabeça?  O que sobra aqui são perseguições banais em uma Gotham plenamente iluminada, sem qualquer energia ou qualquer senso de urgência.

            O outro problema técnico que eu quero abordar é um que me deixou confuso, pois eu achei que já tivesse sido resolvido no filme anterior. Era um mal que tomava também “Batman Begins” – porque as lutas são tão lentas e duras? A primeira luta entre Bane e Batman, por exemplo, não se beneficia em nada dos planos mais longos com os quais ela foi gravada – apenas deixa mais aparente a dificuldade de locomoção de Bale dentro do uniforme de borracha. Agora compare isso com as cenas de luta do filme anterior, que fluem muito melhor tanto em coreografia como na edição. O único aspecto redentor é o desenho de som, que continua magnífico e reproduz bem a sensação de cada impacto dos golpes, principalmente dos de Bane.

            Falando neste, um outro aspecto que me deixou triste, mas reconheço ser mais uma picuinha pessoal, é na construção desse vilão. Não li as histórias do Morcego, e me baseio pelos longas de Nolan, mas lembro que, na época do lançamento do carnavelesco “Batman e Robin”, diversos fãs se mostraram decepcionados com o vilão sendo relegado a um capanga hiper-bombado. Antes de qualquer coisa, é claro que Nolan construiu aqui um personagem muito melhor do que o do longa de 1997, mas isso não é dizer nada, pois não é preciso de muito para isso. Mas me entristece aqui é que, no final das contas, ele continua sendo um capanga bombado E muito inteligente. A decisão de justificar as ações dele com o amor que sente por Talia é, no mínimo, redundante, já que as próprias intenções anarquicas do personagem, tanto nas HQs como no próprio filme, já servem de antagonismo suficiente para Batman/Bruce.  O principal problema disso é a necessidade que cria de investir tempo na personagem de Talia Al Ghul, fato que ajuda a inchar um filme já desnecessariamente longo.

            Outro detalhe sobre Bane, é a voz. Certamente um detalhe subjetivo, mas me custa a acreditar que as pessoas possam se sentir intimidadas por alguém que fala como se fosse Ian Mckellen ou Sean Connery narrando algum livro de Charles Dickens. O sotaque do personagem é tão forçado que quase quebra  a barreira entre essa encarnação “pé no chão” do Cavaleiro de Gotham e as tentativas muito mais cartunescas de suas adaptações anteriores para o cinema.

            Outro personagem pessimamente aproveitado é Selena Kyle, a Mulher-Gato.  Não obstante usar o personagem para introduzir momentos de humor que não funcionam (ao menos não comigo ou com a plateia com quem assisti ao filme), o resto dos momentos que se utilizam dela poderiam ter sido resolvidos de outra forma, sem a necessidade de adicionar um novo personagem. Não digo que eu ache que a personagem não devesse ter sido inserida na trama de forma absoluta, só imagino que poderiam ter dado ela alguma necessidade substancial. E nem é necessário comentar a química romântica nula, mas inserida quase forçosamente, entre ela e Batman.

            Talvez o único personagem se justifique seja o futuro Robin de Joseph-Gordon Lewitt, afinal, ele é uma extensão dos braços de Gordon em Gotham quando este está se recuperando no hospital.

            Por fim, reservo agora um tempo ao aspecto que julguei ser mais preguiçoso: as resoluções das situações. Primeiramente, precisamos mesmo que o longa nos mostre o Bat-Roupeiro de Wayne a cada momento em que ele vai se transformar no seu alter-ego? Exatamente antes de cada cena na qual Batman vai agir, isso é mostrado. São detalhes como esse que enfraquecem a trilogia, que no seu segundo filme mostrou uma sofisticação jamais vista num filme de super-heróis – não é a toa que “O Cavaleiro das Trevas” fosse comparado a um “Fogo Contra Fogo” com Batman e Coringa no lugar dos personagens de DeNiro e Pacino.

            Mas o que temos aqui? Vilões expondo seus desígnios maléficos para herói na hora H. Alguém se lembra de alguma cena tão gratuitamente expositiva no filme anterior quanto a que sucede a facada que Talia desfere em Batman, numa reviravolta num clima de “M.Night Shyamalan” por parte de Nolan? Com direito a até lagriminhas de Bane, logo após.  Uma cena que eu jamais esperaria desta trilogia. E se essa cena não fosse ruim já por si só, é seguida por um momento de conveniência enorme – Selena Kyle aparece e desfere um tiro em Bane no ultimo segundo. O grande vilão, construído com quase metade do tempo do filme, é morto da forma mais hilariantemente anticlimática possível.

            Mas o pior ainda está por vir: uma bomba está para explodir Gotham, com um contador de... 5 meses, e, é claro, Bruce só consegue completar seu treinamento e a subsequente viagem de sua prisão na África faltando 12 horas para a explosão – tensão e clímax criados da maneira mais vagabunda e sem-vergonha do que eu jamais imaginaria do cara que nos deu “Amnésia” e “A Origem”.

            Mas talvez a cena mais marcante, para mim, que ilustra muito bem como o roteiro é fraco, é uma que se dá na metade do filme: Gordon é encontrado ferido, depois de dar de cara com Bane nos esgotos, e conta para o personagem de Matthew Modine sobre o vilão, e o que acontece? Ninguém simplesmente lhe dá ouvidos. Essa atitude é de uma incoerência enorme com o que vem acontecendo até agora: não apenas é uma atitude incoerente com a importância que Gordon adquiriu no segundo filme. É uma saída burra para ilustrar a falta de importância de Gordon na cidade atual, mas é uma saída que estaria melhor num filme B como “Alligator” ou “A Bolha Assassina” (que os realizadores destes dois filmes divertidíssimos me perdoem), nos quais sempre há uma cena na qual alguém tenta avisar a policia do perigo iminente, do que em um filme que custou 250 milhões de dólares.

            Mas não culpo a reação do personagem em relação a declaração de Gordon. É o mesmo que eu faria se me dissessem que “O Cavaleiro das Trevas Ressurge” é tão fraco em seus pilares. Eu simplesmente me recusaria a acreditar. Que o próximo diretor (e roteirista) que apadrinhar esse personagem tão fantástico dê, de fato, o ressurgimento que ele merece.



Um comentário:

  1. Bom, eu assisti e gostei muito do filme. Acho que o fato dele ser corrido foi por causa da preocupação de se distanciar da imagem do coringa(que foi perfeito), e acabou que a saída foi fazer um filme corrido, mas bem tenso. Pode até ser que cinematograficamente falando não ficou tão perfeito, mas falando como público, ficou excelente.

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