19/12/2011

Premonição 5 - A morte não é o fim...

...porque se transformou numa franquia de relativo sucesso que retorce para se reinventar.
Premonição, ou "Final Destination", no original, foi um nova boa idéia surgida nas catacumbas do horror hollywoodiano no inicio da década passada. O primeiro filme, que surgiu no inicio da década passada, foi uma empreitada de relativo sucesso: possuía um idéia que se sustentava mais pela originalidade em si do que pela qualidade do roteiro. Não que fosse necessariamente mal escrito; ainda estava milhas à frente dos slashers capengas pós-Pânico, e se apoiava numa atmosfera absolutamente opressiva, lembrando de longe (com ênfase no "de longe”) filmes como "A Profecia".
Logo no segundo filme, todo o clima foi jogado pela janela em favor ao "terrir", que seguiu pelas sequências: a franquia se tornou, talvez demasiadamente cedo, muito auto-consciente do quanto era estapafúrdia. Mas qual filme de horror, ou de fantasia, não o é? Isso não impede de algumas das obras maiores desse gênero se levarem a sério; não há forma melhor de trazer o especador para dentro da história, facilitando a suspensão de descrença.
O fato é que, mesmo assim, "Premonição 2" é um filme divertido pelo que é, e considero, numa comparação geral, tão bom quanto o primeiro. Logo a franquia mergulhou em decadência com mais duas sequências sofríveis, permeada pela "novidade" do 3D, o que prejudicou bastante o impacto das mortes, principalmente para quem não assistia os filmes com a tecnologia.
O que nos leva ao quinto filme da série. Com roteiristas claramente se descabelando para trazer novos paradigmas ao tema da ceifadora que retorna para aparar as pontas de seu grande plano, "Premonição 5" peca por não decidir o que quer: Inicia como as outras sequências, com um clima engraçadinho, com direito a um personagem de alívio cômico que rouba tempo demais de tela para a mediocridade com a qual foi concebido; e piadas de humor negro sem qual resquício de inteligência. Isso tudo não seria um problema se o filme não tentasse, lá pelo meio, dar uma virada completa e querer ser levado à sério.
E isso também não seria difícil nas mãos de alguém talentoso; "Todo Mundo Quase Morto" está aí para provar isso. Mas as conclusões são estapafúrdias e fáceis demais; é como se os próprios personagens estivessem cientes que quem assiste já está mais do que careca de saber como funcionam os mecanismos básicos da série, como a ordem das mortes obedecerem a mesma ordem dos sonhos, tornando então as cenas expositivas em piadas, com personagens tendo epifanias a todo o momento, e magicamente compreendendo tudo sobre o "grande design da Morte". Inclusive a introdução de um novo conceito, essencial na trama, o torna mais patético do que já simplesmente porque é muito abrupta; o personagem tira a explicação literalmente do nada.
Mas, por mais que o filme tenha tomado caminhos decepcionantes quanto à narrativa geral, em outros momentos ele se torna equiparável ao original. As construções das cenas das mortes, no geral, são muito mais elaboradas quanto a fazer o espectador gerar suspeitas sobre qual será o destino dos personagens; diversos pistas falsas se desenvolvem simultaneamente durante as cenas, gerando uma tensão bem maior que a mera cadeia de eventos que culminavam numa morte que, mesmo que não óbvia (mas ridiculamente forçada, mesmo para os padrões da série), eram monótonas, como nos dois últimos filmes. Tendo em vista que a maior parte das pessoas assiste essa série apenas pelas mortes, fizeram aí um belo trabalho. Pena que supõe-se que isso dá carta branca para todo o resto ser escrito de maneira extremamente preguiçosa.
O final traz a sacada mais afinada do longa, que, apesar de ser previsível a partir do momento em que o ato começa a se desenrolar, deixa aquele gosto que senti no primeiro filme; da impiedosidade do destino, e que a morte é, de fato, inescapável. Eu simpatizo demais com a premissa dessa série; tem o potencial de explorar os nossos medos diários de mortes repentinas, não por doenças, às vezes nem sequer por assaltos ou violência gerada de um humano para outro; mas da morte aleatória, fria e sem rosto, do peso mortal da gravidade, das inexoráveis leis da física, da fragilidade do ser humano perante à basicamente tudo que o rodeia. Continuem brincando com isso (e sei que vão brincar; todos os episódios da série, até agora, foram lucrativos), mas não custa nada escrever um pouquinho melhor.

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