...porque se transformou numa
franquia de relativo sucesso que retorce para se reinventar.
Premonição, ou "Final
Destination", no original, foi um nova boa idéia surgida nas catacumbas do
horror hollywoodiano no inicio da década passada. O primeiro filme, que surgiu
no inicio da década passada, foi uma empreitada de relativo sucesso: possuía um
idéia que se sustentava mais pela originalidade em si do que pela qualidade do
roteiro. Não que fosse necessariamente mal escrito; ainda estava milhas à
frente dos slashers capengas pós-Pânico, e se apoiava numa atmosfera
absolutamente opressiva, lembrando de longe (com ênfase no "de longe”)
filmes como "A Profecia".
Logo no segundo filme, todo o
clima foi jogado pela janela em favor ao "terrir", que seguiu pelas
sequências: a franquia se tornou, talvez demasiadamente cedo, muito
auto-consciente do quanto era estapafúrdia. Mas qual filme de horror, ou de fantasia,
não o é? Isso não impede de algumas das obras maiores desse gênero se levarem a
sério; não há forma melhor de trazer o especador para dentro da história,
facilitando a suspensão de descrença.
O fato é que, mesmo assim,
"Premonição 2" é um filme divertido pelo que é, e considero, numa
comparação geral, tão bom quanto o primeiro. Logo a franquia mergulhou em
decadência com mais duas sequências sofríveis, permeada pela
"novidade" do 3D, o que prejudicou bastante o impacto das mortes,
principalmente para quem não assistia os filmes com a tecnologia.
O que nos leva ao quinto filme da
série. Com roteiristas claramente se descabelando para trazer novos paradigmas
ao tema da ceifadora que retorna para aparar as pontas de seu grande plano,
"Premonição 5" peca por não decidir o que quer: Inicia como as outras
sequências, com um clima engraçadinho, com direito a um personagem de alívio
cômico que rouba tempo demais de tela para a mediocridade com a qual foi
concebido; e piadas de humor negro sem qual resquício de inteligência. Isso
tudo não seria um problema se o filme não tentasse, lá pelo meio, dar uma
virada completa e querer ser levado à sério.
E isso também não seria difícil
nas mãos de alguém talentoso; "Todo Mundo Quase Morto" está aí para
provar isso. Mas as conclusões são estapafúrdias e fáceis demais; é como se os
próprios personagens estivessem cientes que quem assiste já está mais do que
careca de saber como funcionam os mecanismos básicos da série, como a ordem das
mortes obedecerem a mesma ordem dos sonhos, tornando então as cenas expositivas
em piadas, com personagens tendo epifanias a todo o momento, e magicamente
compreendendo tudo sobre o "grande design da Morte". Inclusive a
introdução de um novo conceito, essencial na trama, o torna mais patético do que
já simplesmente porque é muito abrupta; o personagem tira a explicação
literalmente do nada.
Mas, por mais que o filme tenha
tomado caminhos decepcionantes quanto à narrativa geral, em outros momentos ele
se torna equiparável ao original. As construções das cenas das mortes, no
geral, são muito mais elaboradas quanto a fazer o espectador gerar suspeitas
sobre qual será o destino dos personagens; diversos pistas falsas se
desenvolvem simultaneamente durante as cenas, gerando uma tensão bem maior que
a mera cadeia de eventos que culminavam numa morte que, mesmo que não óbvia
(mas ridiculamente forçada, mesmo para os padrões da série), eram monótonas,
como nos dois últimos filmes. Tendo em vista que a maior parte das pessoas
assiste essa série apenas pelas mortes, fizeram aí um belo trabalho. Pena que
supõe-se que isso dá carta branca para todo o resto ser escrito de maneira
extremamente preguiçosa.
O final traz a sacada mais
afinada do longa, que, apesar de ser previsível a partir do momento em que o
ato começa a se desenrolar, deixa aquele gosto que senti no primeiro filme; da
impiedosidade do destino, e que a morte é, de fato, inescapável. Eu simpatizo
demais com a premissa dessa série; tem o potencial de explorar os nossos medos
diários de mortes repentinas, não por doenças, às vezes nem sequer por assaltos
ou violência gerada de um humano para outro; mas da morte aleatória, fria e sem
rosto, do peso mortal da gravidade, das inexoráveis leis da física, da
fragilidade do ser humano perante à basicamente tudo que o rodeia. Continuem
brincando com isso (e sei que vão brincar; todos os episódios da série, até
agora, foram lucrativos), mas não custa nada escrever um pouquinho melhor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário