18/05/2012

Pelle, O Conquistador (Pelle Erobreren - 1987 - Dinamarca/Suécia)


            A partir da segunda metade do século XIX, houve uma grande revolução industrial na Europa, onde grandes fábricas passaram a substituir não só os produtos que fabricavam como também a mão de obra, que passou a ser composta de máquinas operadas por uma pequena quantidade de trabalhadores, deixando assim uma grande parcela dos funcionários desempregados. Numa época em que a produção aumentou sua escala e os gastos passaram a diminuir, a burguesia lucrava mais, gastava menos com funcionários que, ganhando pouco, gastavam menos ainda, mantendo a circulação monetária praticamente parada. Em busca de novas oportunidades de trabalho, famílias inteiras passaram a migrar para outros países, a fim de conseguirem trabalho e uma vida mais próspera. E é na Dinamarca, da segunda metade do século XIX, com a imigração dos cidadãos suecos à procura de trabalho, que encontramos o jovem garoto de treze anos que dá nome ao filme.
            Pelle, O Conquistador conta a história de Lassegar, interpretado por Max von Sydow, o Padre Merrin de O Exorcista (1973), já idoso e pai do garoto chamado Pelle, que juntos migram para a Dinamarca à procura de trabalho e uma vida melhor após passarem anos de dificuldade depois da morte da mãe do garoto. O filme acompanha os dois breves anos em que o garoto e seu pai trabalham em uma fazenda.

            Retratando em pequenos acontecimentos a sociedade da época, assuntos como pobreza, religiosidade, adultério, aborto, bulling (termo novo para uma atitude já tão antiga), entre outros, compõem o roteiro desta história comovente em que o garoto almeja uma vida melhor, diante das dificuldades impostas pela sociedade burguesa industrialista que já começava a explorar o trabalho braçal.
            Logo no início, pouco depois de Pelle e Lassegar começarem a trabalhar na fazenda, o garoto é deixado seminu diante dos outros trabalhadores, enquanto é agredido à chibatadas pelo aprendiz de capataz que, pela superioridade de seu posto, aproveita-se dos empregados de maneira arrogante e estúpida. Mais adiante, é assediado pelos colegas da escola onde estuda, pelo fato de seu pai estar dormindo com a mulher do pescador Olsen, que por não ter voltado do mar a um ano, acredita-se que tenha falecido, o que não muda em nada o fato de  acusarem a Madame Olsen de adultério e Lassegar de aliciamento amoroso.
            Com o decorrer da narrativa, novos personagens são apresentados, como o Sr. Kongstrup, o fazendeiro rico e adúltero, cuja mulher é chamada de bruxa pelos funcionários da fazenda por passar noites inteiras bebendo e chorando e, mesmo depois de ter vivido anos com o seu marido, nunca concedeu-lhe um filho, algo que era mal visto na época, quando era de extrema importância as famílias terem filhos para sua sucessão e herdarem todos os seus bens.

            Cercado de pessoas que lhe querem o bem, Pelle conhece outro funcionário da fazenda, Erik Paaske, que planeja trabalhar na fazenda só durante os dois anos que seu contrato lhe oferece e, após receber o pagamento pelo trabalho, incita Pelle a viajar pelo mundo e conquistar países distantes. Notamos ao final do filme que o nome "O Conquistador" ("Erobreren" no original) refere-se tanto à sua viajem para "conquistar" o mundo, como também ao termo conquistar usado como sinônimo de cativar, neste caso, as pessoas que vivem próximas a ele e o apreciam pelo bom garoto que é. Por desentendimentos com o capataz, Erik acaba se acidentando com uma pedra atingindo sua cabeça e deixando-o deficiente mental, acabando assim com o sonho de ele e Pelle saírem juntos da fazenda e conquistarem o mundo.
            As alegorias utilizadas no filme que representam a sociedade da época mostram as mais variadas e absurdas situações, como quando o Sr. e a Sra. Kongstrup recebem a sobrinha da patroa para passar uma temporada na casa. Muito bem tratada pelos funcionários e pelo próprio fazendeiro, sente-se alegre e muito à vontade enquanto vive na fazenda. Logo, acontece uma feira próximo à fazenda, onde os funcionários e os patrões tiram o dia de folga para se divertirem, que é quando o Sr. Kongstrup relaciona-se com sua sobrinha e tira-lhe a virgindade. Depois que retornam à casa, a garota é surpreendida por sua tia enquanto arruma suas malas, em uma mudança repentina e aparentemente sem motivo. Após descobrir a traição, a Sra. Kongstrup vinga-se de seu marido de forma sangrenta. Notamos, como exemplo esta passagem da história, a submissão e opressão da mulher do fazendeiro, semelhante ao povo trabalhador da época, quando era oprimido pela burguesia. Sua vingança representa as revoltas do povo contra os patrões, obrigando os governos a criarem leis trabalhistas que garantiam inúmeros direitos aos trabalhadores. Após a vingança, vemos o Sr. e a Sra. Kongstrup em um relacionamento de aparente igualdade e respeito mútuo, frio e independente, em paz.
            Pelle, O Conquistador recebeu o Oscar de melhor filme estrangeiro de 1987. É uma coprodução Dinamarca/Suécia, dirigido por Billie August, que também assina o roteiro. Baseado no livro intitulado "Infância", do escritor Martim Anderson Nexo, é considerado uma das obras literárias mais importantes da Dinamarca.

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