29/01/2012

Attack the Block

Acontecimentos recentes na Inglaterra nos mostraram uma parte da realidade da periferia e Londres onde jovens com praticamente nenhuma expectativa de futuro, se revoltaram com as autoridades e numa explosão de uma fúria irresponsável, transformaram as ruas da capital britânica em um verdadeiro campo de batalha. Attack de Block é uma ideia genial de como um pequeno grupo de jovens da periferia faria para sobreviver a uma invasão alienígena.
Logo no início temos um bom exemplo de como os jovens atuam. Uma jovem enfermeira, voltado para casa à noite, é assaltada pela gangue que controla a região chamada “Bloco”, em referência ao grande prédio residencial da região e local que é atacado, de acordo com o nome do filme. Tendo todas as suas coisas roubadas, a enfermeira Sam retorna para seu apartamento no Bloco. Enquanto isso, a gangue, liderada pelo jovem Moses, se depara com um ser alienígena que depois de atacar Moses, é perseguida e morta pelo próprio e levada para um lugar “seguro”, a sala das ervas, no apartamento em que Ron, personagem de Nick Frost, trabalha vendendo drogas. Não demora muito para que dezenas de alienígenas apareçam e cacem o pequeno grupo.
Apesar de estarem em uma periferia ao sul de Londres, a maioria dos jovens está na gangue somente pelo motivo de ser “legal” ou “radical”. O único que tem reais motivos para ser revoltado com a vida e o sistema é o próprio Moses, que descobrimos no final do filme. Os outros moram no Bloco junto com seus pais ou avós, onde mesmo estando em uma gangue, não deixam de fazer o que lhes é ordenado pelos seus parentes.
Não demora muito para que o Bloco esteja infestado de seres extraterrestres de aparência símia, peludos e de uma cor tão negra quanto a própria escuridão, fazendo-se notar somente um brilho fosforescente de seus incontáveis dentes. Estes seres, caçando os jovens, adentram o Bloco, dilacerando com seus dentes brilhantes qualquer um que lhes atice.
Logo os jovens e a enfermeira se cruzam novamente e se unem para sobreviver. Inicialmente, a raiva de Sam para com os jovens é tanta que ela usa a única coisa à sua mão como arma para se defender, um violão. Aos poucos, enquanto sobrevivem, eles acabam se conhecendo melhor, e Sam vai entendendo o motivo de Moses levar a vida que tem, deixando de ser um delinquente rebelde e passando a ser um líder herói, que faz de tudo para salvar seus amigos, demonstrando uma aversão a assassinatos, motivo principal este de ele caçar os alienígenas que já atacaram e podem matar seus amigos ou como ele mesmo diz, “qualquer um”.
É uma mudança de personalidade total. Somos apresentados inicialmente a um Moses durão, sangue frio e insensível, que assalta cidadãos indefesos com sua gangue, ameaçando as vítimas se não fizerem o que ele manda. Quando se vê encurralado, sob a ameaça de um inimigo desconhecido, toda a sua brutalidade se transforma em um dever pessoal de ajudar o próximo, mesmo que isso custe a sua vida. Logo ele consegue a confiança de Sam, que junto dos outros jovens, percorre os corredores do Bloco em uma tentativa desesperada de exterminar todos os alienígenas.
As cenas de ação são muito bem planejadas, com planos que beneficiam tanto as atuações e movimentos dos personagens quanto na ocultação de detalhes dos alienígenas, que com seus movimentos animalescos e aparência obscurecida pela sua pelugem negra, ajudam a evitar uma visualização que, se fosse possível, perderia grande parte do suspense e não passaria a mesma sensação de suspeita e receio ao desconhecido.
Alguns dos componentes da gangue morrem. Algo que nos faz pensar “e o pai dele?” ou “e a avó dele?”, deixa no ar a resolução total do evento. Mas pequenos elementos do roteiro como o filme se passar aparentemente em uma noite de festa de fim de ano, onde fogos de artifício iluminam os céus e dispersam a atenção dos meteoritos alienígenas caindo, ou o som das explosões que ocultam o som da queda dos meteoritos, os tiros e os fogos de artifício usados pelos jovens contra os alienígenas, além de pequenos planos que nos mostram que esses jovens são o que conhecemos como “rebeldes sem causa”, que fazem poses de durões mas levam o cachorro de estimação para passear a mando do próprio pai. O único que teria alguma razão para ser “rebelde com causa” é Moses, que em um sugestivo plano da porta de entrada do seu apartamento nos faz pensar o que deve estar ali, ou o que deveria estar. Possivelmente o motivo de toda a rebeldia acumulada. Um roteiro muito bem amarrado e desenvolvido, com tons de seriedade e alívios cômicos – pontos para Nick Frost – fazem desse filme uma história bem divertida.
Para quem não sabe, o roteirista de Attack the Block, Joe Cornish, que junto de Nick Frost, que produziu e deu uns retoques no roteiro, ambos também estiveram envolvidos com o roteiro de Tintim, a mega produção de Peter Jackson e dirigido por Steven Spielberg. Por causa disso, tenho certeza de que se Tintim não for bom – não estou dizendo que não seja bom – certamente não será por causa do roteiro – ou não. Todos podemos errar uma ou outra vez.

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