Acontecimentos recentes na
Inglaterra nos mostraram uma parte da realidade da periferia e Londres onde
jovens com praticamente nenhuma expectativa de futuro, se revoltaram com as
autoridades e numa explosão de uma fúria irresponsável, transformaram as ruas
da capital britânica em um verdadeiro campo de batalha. Attack de Block é uma
ideia genial de como um pequeno grupo de jovens da periferia faria para
sobreviver a uma invasão alienígena.
Logo no início temos um bom
exemplo de como os jovens atuam. Uma jovem enfermeira, voltado para casa à
noite, é assaltada pela gangue que controla a região chamada “Bloco”, em
referência ao grande prédio residencial da região e local que é atacado, de acordo
com o nome do filme. Tendo todas as suas coisas roubadas, a enfermeira Sam
retorna para seu apartamento no Bloco. Enquanto isso, a gangue, liderada pelo
jovem Moses, se depara com um ser alienígena que depois de atacar Moses, é
perseguida e morta pelo próprio e levada para um lugar “seguro”, a sala das
ervas, no apartamento em que Ron, personagem de Nick Frost, trabalha vendendo
drogas. Não demora muito para que dezenas de alienígenas apareçam e cacem o
pequeno grupo.
Apesar de estarem em uma
periferia ao sul de Londres, a maioria dos jovens está na gangue somente pelo
motivo de ser “legal” ou “radical”. O único que tem reais motivos para ser
revoltado com a vida e o sistema é o próprio Moses, que descobrimos no final do
filme. Os outros moram no Bloco junto com seus pais ou avós, onde mesmo estando
em uma gangue, não deixam de fazer o que lhes é ordenado pelos seus parentes.
Não demora muito para que o Bloco
esteja infestado de seres extraterrestres de aparência símia, peludos e de uma
cor tão negra quanto a própria escuridão, fazendo-se notar somente um brilho
fosforescente de seus incontáveis dentes. Estes seres, caçando os jovens,
adentram o Bloco, dilacerando com seus dentes brilhantes qualquer um que lhes
atice.
Logo os jovens e a enfermeira se
cruzam novamente e se unem para sobreviver. Inicialmente, a raiva de Sam para
com os jovens é tanta que ela usa a única coisa à sua mão como arma para se
defender, um violão. Aos poucos, enquanto sobrevivem, eles acabam se conhecendo
melhor, e Sam vai entendendo o motivo de Moses levar a vida que tem, deixando
de ser um delinquente rebelde e passando a ser um líder herói, que faz de tudo
para salvar seus amigos, demonstrando uma aversão a assassinatos, motivo
principal este de ele caçar os alienígenas que já atacaram e podem matar seus
amigos ou como ele mesmo diz, “qualquer um”.
É uma mudança de personalidade
total. Somos apresentados inicialmente a um Moses durão, sangue frio e
insensível, que assalta cidadãos indefesos com sua gangue, ameaçando as vítimas
se não fizerem o que ele manda. Quando se vê encurralado, sob a ameaça de um
inimigo desconhecido, toda a sua brutalidade se transforma em um dever pessoal
de ajudar o próximo, mesmo que isso custe a sua vida. Logo ele consegue a
confiança de Sam, que junto dos outros jovens, percorre os corredores do Bloco
em uma tentativa desesperada de exterminar todos os alienígenas.
As cenas de ação são muito bem
planejadas, com planos que beneficiam tanto as atuações e movimentos dos
personagens quanto na ocultação de detalhes dos alienígenas, que com seus
movimentos animalescos e aparência obscurecida pela sua pelugem negra, ajudam a
evitar uma visualização que, se fosse possível, perderia grande parte do
suspense e não passaria a mesma sensação de suspeita e receio ao desconhecido.
Alguns dos componentes da gangue
morrem. Algo que nos faz pensar “e o pai dele?” ou “e a avó dele?”, deixa no ar
a resolução total do evento. Mas pequenos elementos do roteiro como o filme se
passar aparentemente em uma noite de festa de fim de ano, onde fogos de
artifício iluminam os céus e dispersam a atenção dos meteoritos alienígenas
caindo, ou o som das explosões que ocultam o som da queda dos meteoritos, os
tiros e os fogos de artifício usados pelos jovens contra os alienígenas, além
de pequenos planos que nos mostram que esses jovens são o que conhecemos como
“rebeldes sem causa”, que fazem poses de durões mas levam o cachorro de
estimação para passear a mando do próprio pai. O único que teria alguma razão
para ser “rebelde com causa” é Moses, que em um sugestivo plano da porta de
entrada do seu apartamento nos faz pensar o que deve estar ali, ou o que
deveria estar. Possivelmente o motivo de toda a rebeldia acumulada. Um roteiro
muito bem amarrado e desenvolvido, com tons de seriedade e alívios cômicos –
pontos para Nick Frost – fazem desse filme uma história bem divertida.
Para quem não sabe, o roteirista
de Attack the Block, Joe Cornish, que junto de Nick Frost, que produziu e deu
uns retoques no roteiro, ambos também estiveram envolvidos com o roteiro de
Tintim, a mega produção de Peter Jackson e dirigido por Steven Spielberg. Por
causa disso, tenho certeza de que se Tintim não for bom – não estou dizendo que
não seja bom – certamente não será por causa do roteiro – ou não. Todos podemos
errar uma ou outra vez.
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