Dez anos se
passaram desde que vimos a jornada de Frodo e Sam pelas terras de Mordor para
destruir o precioso Anel, ou as batalhas travadas com os guerreiros Aragorn,
Gimli e Legolas contra exércitos intermináveis de orcs em uma Terra Média
prestes à ser dominada por Sauron. Agora, depois de anos de espera e apreenção,
Peter Jackson retorna ao mundo criado por J. R. R. Tolkien, mostrando a
fantástica aventura de Bilbo Bolseiro, sessenta anos antes dos acontecimentos
de O Senhor dos Anéis.
Em O
Hobbit, o pequeno Bilbo, interpretado magnificamente por Martin Freeman, parte
em uma aventura junto com o anão Thorin Escudo-de-Carvalho e sua companhia
composta de mais doze anões, além da assistência do mago Gandalf, para
reconquistarem seu lar na Montanha Solitária, o reino de Erabor, dominada pelo
cruel dragão Smaug.
Assim como
em O Senhor dos Anéis, Peter Jackson adapta a obra de Tolkien para o cinema,
junto de suas parceiras de longa data, Fran Walsh e Philippa Boyens, além da
contribuição visionária do diretor Guillermo del Toro. A ideia de Jackson em
adaptar este único livro para três filmes, foi vista com receio pelos fãs.
Entretanto, o diretor decidiu não só adaptar os apêndices publicados junto com
a trilogia do anel, onde constam inúmeros complementos ao período em que se
passa O Hobbit, como também criar narrativas para encaixar na adaptação,
contribuindo para as construções dos personagens e na narrativa da história.
Logo no
início, somos apresentados à história do próspero reino de Erabor e como ele
caiu em desgraça pelas garras do poderoso Smaug. A introdução é narrada pelo
velho Bilbo Bolseiro, interpretado pelo nosso velho amigo Ian Holm, cuja
ambientação se passa pouco antes de sua festa de centésimo décimo primeiro
ainversário, que abre a saga do anel. É nesta narrativa em que se inicia a
história de sua inesperada jornada, quando se encontra com o mago cinzento.
Sentimos
uma agradável sensação nostálgica ao longo do filme, quando transcrições do
livro são interpretadas no filme, como o encontro de Gandalf com Bilbo no
início da jornada, quando se dá uma breve discussão sobre o significado das
palavras "Bom dia" proferidas pelo hobbit ao mago, ou quando Gandalf
conta a história de seu avô Mungo Bolseiro e suas batalhas contra os orcs,
causando risadas na plateia por lembrar-nos às citações de Tolkien no livro.
Ian McKellen como o divertidíssimo Gandalf O Cinzento |
Quanto às livres
criações de Jackson, Fran e Philippa para a narrativa, nos é apresentado o
motivo da alcunha Escudo-de-Carvalho de Thorin e seu confronto com o personagem
criado para ser o vilão do primeiro filme, o grande Orc Branco, responsável por
assassinar o rei dos anões exilados de Erabor.
Durante o
filme inteiro vemos situações onde as habilidades e responsabilidades do
pequeno hobbit é posta à prova, como quando ele tenta distrair os trolls que
estão prestes à devorar os anões capturados, até que o nascer do sol os
transforme em pedra. Entretanto, certamente, um dos momentos mais importantes
para conhecermos o verdadeiro caráter de Bilbo é quando ele deixa de atacar
Gollum, pois diante da expressão de tristeza e desespero profundo da criatura
por ter perdido seu precioso anel, a piedade do hobbit impera sobre a situação
desesperada na fuga da caverna das montanhas das altas passagens.
As
interpretações dos atores são obras de arte à parte. Martin Freeman interpreta
magistralmente um hobbit acomodado, que se vê em uma aventura que pode mudá-lo
para sempre. Seus movimentos um tanto infantis demonstram não só a
despreocupação de um povo calmo, como dá o tom infantil a qual o livro foi
escrito. Os anões, com seus trejeitos e manias variadas mostram que é possível,
e necessário, mais do que capas coloridas para diferenciar uns dos outros.
Richard Armitage desempenha impecavelmente o papel de um ótimo líder, colocando
sua própria vida em risco para salvar seus companheiros. Ian McKellen
entretanto, talvez seja o personagem mais querido do filme. O Gandalf Cinzento
é infinitamente mais divertido do que o Gandalf Branco apresentado na trilogia
anterior, fato este que levou o próprio ator a divulgar que prefere a versão
cinza e jovial do personagem.
Richard Armitage, O Thorin Escudo-de-Carvalho |
Sendo O
Hobbit um filme tão longo (169 minutos), é possível notarmos algumas extensões
desnecessárias em determinadas partes da narrativa, como a apresentação de
Radagast O Castanho. Não que ele seja desnecessário à narrativa, mas devido à
sua exposição demasiada longa para alguém cuja importância é só descobrir o
retorno do Necromante ao reino dos homens, que no livro é relatado como a
aventura de Gandalf depois que ele se separa de Thrin e sua companhia diante da
Floresta Negra para se encontrarem somente no final do livro, na cahamda Batalha
dos Cinco Exércitos. Radagast é também um alívio cômico desnecessário, pois tal
compromisso ficou a cargo dos anões, cuja apresentação hilária na reunião na
casa de Bilbo serve também para demonstrar o bom humor e a amizade que o grupo
compartilha, além de suas exímias habilidades manuais.
O longa
compreende os seis primeiros capítulos do livro, que seguem a linha cronológica
descrita por Tolkien e muito bem marcadas nas viradas de cada ato. A decupagem
das cenas de ação são impecáveis, mostrando uma sincronia impressionante entre
os anões em batalha, os seus rivais e o ambiente em volta, que é sempre muito
bem utilizado pelos guerreiros. Vale citar também a incrível cena dos gigantes
de pedra lutando entre si, enquanto a trupe tenta sobreviver às chuvas de água
e pedra.
Quanto ao
3D, não posso me aprofundar no assunto pois, de acordo com a proposta de Peter
Jackson, ele está diretamente relacionado à velocidade de gravação em 48p, cuja
sala já estava lotada quando adquiri meu ingresso e fui forçado a assistir à
projeção normal de 24p. O que posso dizer isoladamente sobre o 3D é que seu uso
não foi exagerado. Não há cenas cujos planos foram forçados para a utilização
da tecnologia. O 3D é bem utilizado nos nos determinados planos em que
realmente é necessário, e por que não dizer "bonito"? Quando eu
assistir O Hobbit em 48p, colocarei aqui minhas opiniões sobre a tecnologia.
O Hobbit
foi um dos filmes mais esperados do ano e certamente, devido ao seu lançamento
em 3D, alcançará alguma das primeiras posições nos filmes mais lucrativos da
história, chegando bem perto de Titanic e Avatar de James Cameron (e se Peter
Jackson decidir lançar a versão estendida no meio de 2013, certamente vai bater
a bilheteria do colega cienasta).